terça-feira, 5 de abril de 2011

Atendimento pelo Computador

Estamos vivendo no meio de uma revolução tecnológica sendo que os serviços e sistemas de informação estão ocupando um lugar central neste processo; não existem dúvidas acerca das mudanças que ocorreram na sociedade humana decorrentes do advento dos computadores e, posteriormente, da Internet. Entretanto, as mudanças que ocorreram e que ainda podem ocorrer na psicologia e mais especificamente no atendimento psicológico após os adventos destes sistemas e serviços de informações ainda não estão claras para a maior parte da comunidade cientifica bem como para a maior parte da sociedade brasileira.



INTEGRAÇÃO NA WEB


Histórico
Já em 1966 no MIT (Massachusetts Institute of Technology - USA) foi concebido por Joseph Weizenbaum um programa (sistema inteligente) que simula a terapia onde o sujeito falava (via texto) com o programa da mesma forma com que fala com um terapeuta. O nome do programa é ELIZA, e suas falas foram baseadas nas técnicas rogerianas de devolver ao paciente aquilo que ele fala (O dell e Dickson, 1984). Este programa era experimental, e foi posteriormente abandonado por seu autor, mas foi o marco do inicio da intervenção psicológica com o auxílio dos computadores.

Atualmente, segundo Trabin (1996), existem programas de computadores sendo usados nos âmbitos clínico e institucional atuando como: sistemas de apoio a decisões clínicas, auxiliares no atendimento clínico para coletar dados, instrumentos para fazer diagnósticos, como guias de programas terapêuticos e como programas de auto-ajuda. O profissional pode estar atuando junto com o programa em diversos níveis, desde o acompanhamento direto com o cliente até apenas a monitoração do sistema.

Entretanto estes programas requerem um alto grau de investimento financeiro e administrativo, além das possibilidades da grande maioria dos psicólogos clínicos sendo desenvolvidos geralmente por uma equipe multidisciplinar e com verbas destinadas para esta finalidade. O desenvolvimento de tais aplicativos também requerem diversos conhecimentos técnicos específicos, competências que os psicólogos geralmente não tem.

Terapia na era da Internet

Contudo, com a popularização dos microcomputadores e o posterior advento da Internet, a comunicação mediada pelo computador se tornou evento rotineiro na vida de muitas pessoas, inclusive para muitos psicólogos. Para se comunicar via computador já não é necessário nenhum desenvolvimento de programas, apenas conhecimento na utilização dos mesmos (Prado, 1998).

Muitos usuários formaram comunidades virtuais para suporte e auto-ajuda, algumas sem nenhum tipo de controle ou mediação profissional. Segundo King (1998) um problema básico colocado por este tipo de arranjo seria a inexistência de formas de controle que impossibilitem os usuários disseminar informações falsas ou imprecisas a respeito de diagnóstico e tratamento de desordens mentais.

Ao mesmo tempo vemos que alguns psicólogos viram a Internet como uma oportunidade de oferecer seus conhecimentos a consumidores que os procuravam para aconselhamento gratuito (Grohol, 1998); Posteriormente alguns psicólogos começaram oferecer terapia via Internet, como uma atividade profissional, inclusive no Brasil, sem um respaldo ético ou científico específico para terapia via computador.

A posição dos Conselhos

Os conselhos regionais de psicologia se pronunciaram a respeito desta questão, proibindo este tipo de atividade:

"Não se reconhece ainda qualquer modalidade de "psicoterapia pela Internet" como prática profissional legítima. Ainda não foram feitas pesquisas suficientes sobre a questão. (...) É preciso desenvolver pesquisas, e como se trata de pesquisas envolvendo seres humanos, devem seguir as normas do Ministério da Saúde para esses casos. As pesquisas não podem ser cobradas e devem ser aprovadas por uma comissão de ética reconhecida." (Sayeg, 1999, pg. 18).

O Conselho Federal de Psicologia então editou uma resolução onde reconhece serviços psicológicos mediados pelo computador, não psicoterapêuticos, com caráter informativo, de orientação e pontuais. Esta resolução foi criada a partir dos Grupos de Trabalho dos Conselhos Regionais que discutiram e trabalharam a questão com os acadêmicos e com a comunidade profissional (Bock, 2000).

Uma questão de fato que se coloca no momento é que nem este tipo de resolução, nem a falta de pesquisas sobre o tema, impediram alguns psicólogos, na prática, de exercer tal atividade. O atendimento via Internet atualmente é presente e real, tende a crescer com o passar do tempo e não pode mais ser ignorado (Sampson, Kolodinsky e Greeno, 1997).

Este fato parece tornar ainda mais necessárias as pesquisas nesta área, com o objetivo de se estudar as interações terapêuticas que ocorrem na Internet a fim de se definir padrões apropriados de cuidados na entrega de serviços de saúde mental através da Internet (tanto no âmbito da técnica da informática quanto das técnicas e prodecimentos terapêuticos), sendo que, sem pesquisas, padrões de cuidado irão se desenvolver sem validação empírica suficiente.



Metodologias de Atendimento: potencialidades e restrições

Recursos tecnológicos utilizados na terapia on line

Alguns recursos, serviços e softwares têm sido utilizados para o provimento de terapia on line, suas principais vantagens e aplicações serão discutidas posteriormente, sendo que apenas uma breve explicação sobre cada recurso será descrita abaixo.

É importante ter em mente que todas estas classificações são arbitrárias, pois não existem formas únicas e exclusivas de se comunicar na Internet e na maioria das vezes vários recursos são utilizados concomitantemente.

E-mail (textual, assincrônico)
Na atualidade segundo Fink (1999a), o uso do e-mail como serviço de comunicação para consultas on line é a tecnologia escolhida. Porém Maheu, M. M (1999b), relata que este tipo de intervenção, se utilizada na abstinência de outras modalidades de tratamento como terapia face-a-face ou videoconferência, pode não ser eficiente.


Chat (predominantemente textual, sincrônico)
Cutter, F (1996) encontrou após pesquisar na web, informações onde constavam que este tipo de intervenção estava ocorrendo na Internet. Existem vários softwares e serviços para chat, onde se destacam o web chat, realizado dentro de um site e via Browser, Msn, skype, etc.

Vídeo-conferência (predominantemente sensório e sincrônico)

Tendo como o modelo a terapia face-a-face, esta é a forma semelhante de intervenção terapêutica. Existem vários softwares que disponibilizam tal recurso onde a maior limitação ainda é a velocidade de transmissão dos dados.

A grosso modo na videoconferência se tem a visão do que esta sendo filmado pela câmera do interlocutor em uma janela, e em uma outra janela fica disponibilizado o que a câmera do computador do usuário está filmando. Ambos necessitam de microfone para que a voz também seja transmitida.

Grupos (Terapêuticos, Suporte e auto ajuda)

São comunidades virtuais que se comunicam via e-mail ou via fóruns em websites relacionados ao assunto discutido. Os grupos de suporte funcionam comumente no formato dos grupos de auto-ajuda como os Alcoólicos Anônimos. O objetivo do grupo é prover suporte, orientação e informação sobre o tema discutido, enfim segundo Fink, J. (1999b), reunir interesses e necessidades especiais freqüentemente não disponíveis no espaço real. De acordo com o autor, estas novas possibilidades, como as comunidades virtuais, não eram antes disponíveis aos clínicos para uma intervenção terapêutica. Agora se apresentam como um novo campo para a pesquisa.


Os grupos de suporte podem se organizar de várias formas:


·Grupos Abertos: nestes grupos qualquer pessoa pode entrar e postar mensagens sem que seja requerido algum tipo de autorização.

·Grupos Fechados: neste caso é requerida a autorização pelo líder ou mediador do grupo para que o indivíduo possa fazer parte da comunidade. Estes são normalmente restritos a pessoas ligadas diretamente `a temática do grupo.

·Grupos moderados por profissionais: O líder ou mediador do grupo é um profissional de saúde mental que trabalha com a temática discutida no grupo. Segundo King, S.A. (1998), esta modalidade tem um grande potencial terapêutico ainda não desenvolvido.

·Grupos sem moderação de profissional: O mediador do grupo é uma pessoa portadora da deficiência, patologia ou ligada a problemática discutida na comunidade.

·Grupos terapêuticos: Similares aos grupos de suporte fechados e moderados por um profissional, porém diferem destes, pois a atuação do profissional é diferente. Nesta modalidade o profissional tem o papel de terapeuta do grupo.

Semana que vem continuamos essa matéria.

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