sexta-feira, 27 de maio de 2011

Psicologia e Cinema.

SINOPSE


Rafi é uma mulher recém-divorciada, ainda traumatizada pelo fracasso de seu relacionamento. Ela acaba se apaixonando por um pintor 15 anos mais novo que ela. O filme mostra o ponto de vista não somente do casal envolvido, mas das pessoas que o cercam, mostrando todas as conseqüências sociais quando duas pessoas se apaixonam.

 
ASSUNTO

Relação terapêutica, Relacionamento casal, Relações afetivas, Psicoterapia

No filme Terapia do Amor, Meryl Streep interpreta o papel de uma psicoterapeuta e Uma Thurman representa o de paciente.


O filme em si, na minha opinião, não é particularmente bom, mas levanta um problema ético de difícil resolução e que todos nós, (futuros)psicoterapeutas, corremos o risco de ter que enfrentar em algum momento do nosso percurso profissional.

A paciente apaixona-se e envolve-se com o filho da psicoterapeuta sem ter consciência desta relação de parentesco. O conflito psicológico e ético em que esta situação coloca a psicoterapeuta (dado que é ela quem percebe em primeiro lugar que o filho é o namorado da paciente) é bastante bem retratado no filme, se bem que não a um nível muito profundo.

A decisão da psicoterapeuta de continuar a seguir a paciente sem lhe dizer que o namorado dela é o seu filho é, para muitos, no mínimo, questionável; contudo a decisão inversa, a de contar de imediato à paciente que a pessoa por quem ela se está a apaixonar é o seu filho, também seria igualmente questionável. Este não é um problema de fácil solução e qualquer que seja a posição do psicoterapeuta, esta pode ser defendida e atacada.

No filme a psicoterapeuta opta, até a um certo ponto da história, por não dizer nada à paciente e tenta esforçar-se por pensar e viver aquela situação como se não se tratasse do seu filho, mas de qualquer outro rapaz. Tenta, num certo sentido, manter uma posição profissional, não querendo prejudicar a paciente por aquilo que lhe parece, na altura, uma situação passageira e sem futuro. Ao longo das sessões podemos observar o profundo incómodo da psicoterapeuta com o relato minucioso e íntimo da vida do casal e a necessidade que tem de recorrer ela própria a um psicoterapeuta para tentar lidar com a situação que está a viver.

Quando a psicoterapeuta percebe que a relação entre o casal é mais intensa e duradoura do que estava à espera e, simultaneamente, pressionada pelo tumulto interno que as revelações da paciente geram em si e temerosa de poder estar a prejudicar a paciente e “futura nora”, resolve contar-lhe que é a mãe do seu namorado. Esta revelação põe um ponto final à psicoterapia e abre espaço para que as duas mulheres passem a ter uma relação privada, a qual, no entanto, contínua contaminada pela relação anterior. O filme não trabalha muito esta parte relativa às consequências da contaminação da relação psicoterapêutica anterior na relação actual.

No fundo, o problema que o filme coloca é o de saber o que fazer quando no decurso de uma psicoterapia o nosso paciente passa a relacionar-se de forma íntima com alguém que também faz parte do nosso círculo pessoal. Devemos ou não revelar ao paciente o nosso laço particular com a pessoa envolvida.

Na minha opinião, a decisão da psicoterapeuta do filme foi a mais correcta. Isto é, não se precipita a revelar de imediato a ligação, tentando simultaneamente perceber o momento em que a retenção dessa informação causa modificações na forma como conduz a psicoterapia.

Quando a psicoterapeuta percebe que o frágil equilíbrio entre o benefício e o prejuízo se inclina no sentido de ser prejudicial para ambos (psicoterapeuta e paciente) deve, na minha opinião, revelar e dar por terminada a psicoterapia, por não existirem condições adequadas para a realização da mesma.

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