quinta-feira, 2 de junho de 2011

Fenômenos continuação

Hiperestesia


Pode-se levar o paciente a experimentar um aguçamento das
sensações táteis, de tal forma que ele acuse o toque iminente que
ainda não foi efetuado, ou que estímulos discretos sejam percebidos
como dolorosos.
Os outros sentidos também podem ser alterados, em pacientes
especialmente responsivos.

Incremento da Imaginação e Criatividade

A partir de pistas incompletas ou das expectativas mesmo não
mencionadas do operador, criam-se situações ou estórias complexas e
cheias de detalhes, às vezes difíceis de separar das experiências
objetivas.

Relatos de abduções por extraterrestres, de vidas passadas, abusos
sexuais na infância ou revelações místicas devem ser analisadas com
muita sobriedade e filtradas através de uma ampla compreensão das
dinâmicas psicossociais e do simbolismo próprio do indivíduo.

Outrossim, da mesma forma que resolvemos um problema com uma
noite de sono, ou o publicitário que tem suas melhores idéias “no
chuveiro”, essa facilitação dos processos criativos que ocorre em
hipnose é a meu ver o aspecto mais fascinante e valioso de todo o
fenômeno.

Ilusões e Alucinações


Ao paciente em hipnose é possível responder ao mundo que está
em sua imaginação mais que ao mundo percebido por seus sentidos.

Assim, se ele imaginar que a moeda que segura está
incandescente, vai atirá-la longe e se ressentir com a dor da
queimadura.

Pode mostrar-se realmente encantado como o delicado passarinho
que estaria empoleirado em seu dedo, e elogiar o seu melodioso canto.
Talvez a platéia não veja o passarinho, ou não ouça o canto. Que pena.

A verdade é que ninguém conhece o mundo real. Nossos sentidos
captam pequena parte das diversas formas de energia que chegam até
nós, e em nosso cérebro construímos um modelo de mundo que é onde
agimos, vivemos. Esse modelo é influenciado por condicionamentos
sociais e necessidades básicas associadas à sobrevivência e evolução
da espécie. Outras tantas e tantas influências também o afetam, e a
hipnose pode ser uma delas.

As alucinações hipnóticas podem ser positivas quando o indivíduo
percebe como real algo que está apenas em sua imaginação ou
negativas quando deixa de perceber coisas que antes estavam ali.
As alucinações podem estar relacionadas a todos os sentidos.

A um paciente altamente responsivo, um “gato imaginário” teria cor,
peso, odor, personalidade, textura ao toque e poderia até morder
provocando dor. O ferimento resultante seria obviamente alucinação,
porém o organismo poderia responder com hiperemia (vermelhidão) e
edema.

Ao contrário, poderia sugerir-se ao paciente que as outras pessoas
da sala teriam ido embora. Ele não as veria, mesmo que se
atravessassem em sua frente. A interrupção do campo visual seria
ignorada ou preenchida com dados da memória. O som das vozes
desapareceria, mesmo que gritassem. Se fosse tocado ou empurrado,
poderia lidar com isso ignorando o ocorrido, ou ficando assustado e
imaginando “fantasmas” ou tropeços. Da mesma forma, se os móveis
fossem trocados de lugar, ou ligassem a televisão, ficaria confuso ou
tentaria achar explicações.

Num universo de pacientes, apenas uma parcela é capaz de
responder à hipnose com tal intensidade.

Sugestões Pós-hipnóticas


É possível condicionar o paciente em hipnose a praticar
determinada ação, associada ou não a certo estímulo desencadeante.

A um certo paciente, em sessão para fins experimentais, sugeri que
ao acordar do transe nós continuaríamos a conversar naturalmente. E
mais: quando eu cruzasse os braços, ele falaria comigo em língua
inglesa (que ele dominava) e quando eu descruzasse, ele voltaria a
falar em português. Tal ocorreu por diversas vezes, sem que ele
percebesse. Confrontado com sua atitude, a princípio não reconheceu
que essa mudança de linguagem houvesse acontecido. Após muito
esforço, admitiu que por vezes falava em inglês, “só para praticar”.

Desafiado a reconhecer o estímulo externo que desencadearia o ato,
falhou e foi difícil para ele associar mesmo quando explicada a relação
entre a posição de meus braços e a linguagem da conversa.

O importante nesse relato não é o poder de condicionamento da
hipnose, e sim a capacidade do indivíduo de agir de forma
completamente automática e inconsciente.

É assustador pensar em quanto da nossa energia e liberdade estão
comprometidos com a execução dos condicionamentos acumulados na
infância e no decorrer da vida.

Grande parte do trabalho terapêutico consiste em recuperar a
consciência e o auto-domínio. E ao criar condicionamentos, fazê-lo com
tecnologia que predisponha ao sucesso e à felicidade.

É consenso entre os hipnólogos que não é possível forçar alguém a
agir contra seus princípios, diretamente.

Acredita-se que, no período necessário à execução da sugestão, a
pessoa volte temporariamente ao estado hipnótico.

Todos os outros fenômenos hipnóticos podem ser programados na
forma de sugestões pós-hipnóticas.

Regressão de Idade

Um adulto, especialmente se for homem, acamado por uma gripe
forte ou outra doença, vai apresentar alguns sintomas interessantes.

Vai ficar muito carente e desejoso de carinho, manhoso, a às vezes
chega ao extremo de falar igual criança. Mas isso você já viu.

Quando esse mesmo adulto se recuperar, você pode pedir a ele que

fale sobre sua mãe, sobre a estorinhas que ele gostava de ouvir
quando era criança, ou as canções de ninar preferidas... Acontece uma
verdadeira metamorfose em seus modos e feições, e um ou outro vai
realmente colocar o dedão na boca.

Um adolescente deixa a casa dos pais para estudar. Tem horários,
responsabilidades, e amadurece muito rápido. Até receber a primeira
visita da mãe, onde o progresso é todo perdido, ou pior.

Esse fenômeno é bem conhecido da psicologia ortodoxa, porém em
hipnose, associado à hipermnésia e à visualização cênica, assume
novas dimensões.

É possível ao paciente reviver situações de seu passado como se
acontecessem agora, desde os momentos felizes e de vitórias nos
quais se pode buscar recursos até momentos relacionados a traumas
emocionais.

Um paciente regredido até os 7 anos vai escrever seu nome com
letra infantil, e não vai resolver uma equação, simplesmente porque
ainda não aprendeu como fazê-lo. Vai falar sobre os amiguinhos da
escola, os brinquedos, papai e mamãe.

Regredindo mais, mostrará sua idade com os dedos, talvez 2 anos,
e possivelmente falará errado e com jeito de criança.

É realmente controverso o quanto se pode regredir, e os diversos
autores e especialistas em hipnose têm cada qual sua opinião, baseada
em sua própria experiência. As crenças e idéias do hipnotizador,
entretanto, realmente influem nos resultados obtidos.

Mesmo após o nascimento, continua ocorrendo o desenvolvimento
do Sistema Nervoso Central e a progressiva mielinização dos feixes
nervosos. Isso provoca diferenças no exame neurológico entre adultos
e crianças em desenvolvimento precoce.

Em certos pacientes regredidos para poucos meses de idade, podese
desencadear respostas e reflexos próprios dessa fase específica,
como reflexo cutâneo-plantar em extensão, Moro, preensão palmar e
plantar, reflexo de sucção e outros. É incoerência acreditar que um
paciente regredido a este nível possa comunicar-se ou mesmo
entender a comunicação verbal. Quando tal acontece, devem-se
considerar aspectos fantasiosos, representação de fragmentos de
lembranças ou histórias ouvidas dos pais ao longo do tempo, desejo desatisfazer
as expectativas do hipnotizador, ou ainda outros específicos de cada caso.

Muitos colegas têm por rotina levar os pacientes a experimentar
regressões para a vida intra-uterina e a reexperimentar seu próprio
nascimento.

É sabido que o feto reage a estímulos do ambiente, a estados
emocionais da mãe, e que passa muito, senão todo o tempo, dormindo.

Talvez sonhe. Se é possível reter lembranças desse período, e em
caso positivo de que forma elas são representadas, é objeto de
especulação. Acredita-se que traços de memória subjetivos possam
persistir, e associados a informações e idéias obtidas depois, sirvam de
roteiro para a representação dessas fases do desenvolvimento do
indivíduo. De qualquer forma, é conteúdo emocional válido e importante
para terapia.

Quanto ao nascimento, o paciente em hipnose realmente profunda
pode ser levado a reexperimentá-lo, e o fará com atitudes físicas e
expressões características. Comunicação durante o fenômeno genuíno
é impossível, e quando ocorre, inclui-se no citado acima.

Ainda explicando, em tempo: quando o indivíduo lembra, mesmo
que com detalhes vívidos e reações emocionais fatos do passado, isso
é hipermnésia. Quando incorpora e exibe características desse estágio
de desenvolvimento, é regressão.

A regressão pode acontecer junto a fenômeno dissociativo, em que
parte da pessoa revive os acontecimentos e parte permanece na sala
com o terapeuta. É mais instável e permeado por interferências de um
nível de função mental na experiência do outro.

Dissociação

Dissociar é literalmente dividir em dois. Uma parte do paciente pode
estar na cadeira do dentista, enquanto outra está pescando num riacho,
ou relendo um capítulo de um livro. É como se houvessem dois dele.

Este é um recurso muito usado.
Já provoca-se um estado dissociativo ao fazer o paciente perceber
que tem duas mentes: a “consciente” e a “inconsciente”. Isso por si só
já é indutivo de hipnose.

Regressão a Vidas Passadas


É imprescindível ter sempre em mente que o estado hipnótico excita
a imaginação, e que esta, por vezes, é tão vívida que é impossível para
o paciente separar as experiências reais daquelas que ocorreram
apenas em sua mente. Com apenas fragmentos de conhecimentos
sobre uma época, cultura ou lugar, pode-se construir trajetórias de vida
cheias de detalhes, de sentimento e veracidade.

Obviamente essas estórias são repletas de simbolismo e conteúdo
que deve ser apreciado pelo hipnólogo. E o ato de construí-las em si já
pode ser fonte de soluções, alternativas e organização dos estados
emocionais.

Em raras ocasiões, porém, sempre associadas aos estágios mais
profundos da hipnose, ouvem-se histórias realmente impressionantes,
com detalhes históricos ou geográficos que podem ser confirmados, ou
cuja narração remonta a um passado recente e é possível recorrer a
evidências documentais ou de testemunhos que parecem endossá-las.

A literatura mundial registra diversos desses casos, alguns mesmo
tornados célebres.

E todo hipnólogo que não carregue viseiras nos olhos depara-se
com pacientes que sob hipnose falam línguas que não poderiam ter
aprendido; ou demonstram habilidades e conhecimentos estranhos à
sua experiência atual; ou ainda se refiram a cantigas e folclore há muito
esquecidos.

Geralmente tais recordações são espontâneas, ou vão aparecer ao
se explorar um sintoma presente que esteja motivando o tratamento.

Há muito ainda longe de ser explicado.
“Para o homem comum, o mundo é estranho porque, se não está
entediado com ele, está com raiva dele. Para um homem de
conhecimento, o mundo é estranho porque é estupendo, assombroso,
misterioso, insondável.”(Citação de Dom Juan,em Viagem a Ixtlan, de
Carlos Castañeda).

Progressão de Idade

Todos têm planos, projeções para o futuro, e conseguem se
imaginar dentro de 5 anos, ou 10 anos, ou na velhice.
Muitas das coisas que realmente vão acontecer têm suas sementes


sendo plantadas no presente, ou só estão esperando para se tornarem
aparentes.

A progressão de idade não tem nada de divinatório, é só que a
mente inconsciente é capaz de lidar com mais variáveis e influências, e
talvez fazer estimativas mais amplas e detalhadas. Algo como observar
o trânsito do alto, em um helicóptero.

Pode-se progredir um paciente para estudar suas predisposições,
desejos e medos, ou então para programar um futuro e mobilizar seus
recursos inconscientes para sua concretização.

Hipnose e Parapsicologia

A comunicação é um fenômeno muito mais amplo do que se
costuma perceber. Ocorre em vários níveis. Pequenas variações no
tom da voz, postura corporal, tensões musculares localizadas, ênfase
em certas palavras, posição do olhar, diferenças na coloração da pele,
odores (ferormônios?), e ainda outros sinais podem passar
informações, que, se não são captados a nível consciente, o são
sempre pela mente inconsciente, que responde a eles.

Muito do que parece ser Percepção Extra-Sensorial ou “sexto
sentido” é na verdade comunicação não-verbal.

E é muito interessante considerar as diversas formas pelas quais
essas informações chegam à mente consciente. Impressões,
presságios, sonhos. Explícitos ou com linguagem simbólica. Ou filtrados
através das crenças do indivíduo e usando outros sistemas
representacionais (como outros sentidos). Um “guia espiritual” pode
fazer revelações sobre os outros e dar conselhos. Uma enfermidade
pode parecer uma “mancha escura na aura”.

Mas comunicação não-verbal não explica todos os fenômenos
documentados e estudados pela Parapsicologia.

Se existe uma natureza mágica no homem, ou outras possibilidades
para a percepção, a hipnose é uma larga porta de acesso.

Continua semana que vem com..."QUEM PODE SER HIPNOTIZADO?"

Nenhum comentário:

Postar um comentário