sexta-feira, 17 de junho de 2011

Psicologia e Cinema

Cisne Negro pelo Olhar da Psicanalise

O filme a princípio nos mostra claramente e antes de tudo a relação mãe-filha de uma forma simbiótica, manipuladora, obsessiva, castradora, possessiva e porque não dizer como na modinha de todos os blogs que li: “esquizofrênica”. O que acho engraçado é que 80% dos que escreveram nos seus blogs, creio que não tem noção nem de psicologia, psiquiatria e nem psicanálise para fazerem tais comentários, fora que além de tudo, um vira cópia descarada do outro, só para constarem que não são acéfalos.


Bom, voltando ao filme como eu falei acima, de cara percebe-se a relação mãe-filha que é o pilar para a estrutura do sujeito, sendo que toda mãe, é o nosso primeiro objeto de amor e com uma filha, isso é mais delicado se não há um terceiro para quebrar essa relação. No filme basicamente mostra o desejo de realização + frustração, posse, castração e obsessão da mãe para com a filha e da filha cujo se realizava em aceitar os caprichos de sua mãe, não tinha autonomia, vida própria, reprimindo seus desejos, sejam eles sexuais, psicossociais --- uma aparente normalidade no período anterior ao surto — a personalidade "como se" fachada obsessivo-compulsiva.

A mãe já demonstra claramente traços psicóticos. Sem vida social, trancada num apartamento, vivendo só para a filha e a vida da mesma, de uma forma de TOC, num misto de inveja, realizações e repressões e pintando rostos e umas pitadas psicóticas; não psicopatas ok gente?

E quando uma pessoa narcísica com mania de perfeição se depara com alguém que ele julga mais perfeito que ele? É o caso da Nina “personagem principal do filme” – ( todo TPB – transtorno de personalidade borderline tem traço narcísico) o insight da loucura começa a desencadear. Com isso, mexe com sua estrutura que estava ali, quieta e pronta para atuar, a loucura de todos nós, a loucura que reprimimos, que guardamos na caixa de pandora. Interessante quando ela se dá conta que já tem 28 anos, que não é mais a menininha da mamãe, que é uma mulher, que tem desejos, vontades não saciadas, pois, sua mãe queria uma filha assexuada. Então joga desesperadamente todos só bichinhos de pelúcia do seu quarto infantilizado.

Abrirei um espaço aqui para explicar só mais um pouco o desejo da Nina pela Lily e a simbiose com a mãe:

Para M. Klein já em 1960 antecipou os pontos de regressão e fixação da homossexualidade feminina numa etapa anterior a postulada por Freud, enfatizando o temor fundamental da menina em relação ao interior do seu corpo e a curiosidade e ataques sádicos dirigidos ao interior do corpo da mãe, tentando arrebatar-lhe o pênis cobiçado. Já Aisemberg (1986) diz que: “Todo vínculo vem de uma identificação ou toda identificação contém a história de um vínculo, história que reconstruímos quando na análise nos desidentificamos”. O mesmo autor ainda descreve três tipos de identificações sexuais, na mulher, que se encontram seriamente perturbadas na homossexualidade clínica:

1) A identificação com a mãe materna, fruto do desenlace da fase edípica, portanto, ligada à estruturação narcísica e ao desejo de ter e criar filhos;


2) A identificação com a mãe erótica, a mãe rival do Complexo de Édipo positivo. Resultado do desenlace edípico onde a mãe é identificada como aquela que se oferece ao pai como objeto de desejo. Identificação para a vida amorosa e erótica;


3) A identificação com o pênis do pai, e identificação com os aspectos ativos e penetrantes do pai interditor, que tira a filha do narcisismo com a mãe e a introduz no mundo externo, com o que já não será psicótica e nem perversa” (Aisemberg apud Graña,1998).


É necessário uma outra identificação com o pai, que confirma a menina como desejável na encruzilhada edípica. Se a expressão da experiência erótica feminina chega a ser tão problemática, a representação da sexualidade lesbiana o é ainda mais, pois rompe com as relações dominantes de gênero, ao excluir a figura do homem e colocar a mulher em uma posição de sujeito atuante, em vez do papel tradicional de objeto do desejo masculino. Assim, o desejo lesbiano na obra de escritoras brasileiras não só representa uma dimensão importante da sexualidade feminina, como também serve para expor e questionar o controle social sobre a sexualidade e o corpo feminino.

A lesbianidade abre um espaço para a realização pessoal e sexual da mulher, no qual a identificação com outro ser seu igual torna possível a auto integração do sujeito feminino. Como tem sido analisado pela teoria crítica contemporânea, as origens dessa identificação física e psíquica entre mulheres remonta ao semiótico (quando a criança encontra-se num estágio de perfeita simbiose com a mãe. Esse primeiro estágio de união influencia as relações posteriores do sujeito e determina na mulher um tendência à bissexualidade e a uma sexualidade mais fluida.

Conseguiram entender? Vamos voltar a falar sobre filme:

Pressionada por Thomas Leroy (Vincent Cassel), um exigente diretor artístico, Nina começa a fazer os exercícios repetidos que chegam levá-la a exaustão e a pressão psicológica torturante que beira a loucura por isso, de certa forma vendo mais calmamente o filme não concordo com o estereótipo do rótulo da esquizofrenia que virou moda agora todo mundo chegar e bater o martelo, sem darem conta que no filme mostra um retrato fiel do comportamento Borderline.

Nina (Natalie Portman), projeta seu EU na sua colega Lily numa paranóia de perseguição inexistente. Como ela sempre viveu em função da mãe, aos desejos e caprichos da mesma, não deve ter vivido sua adolescência que obviamente aflorou no momento errado. Suas alucinações e delírios ficam cada vez mais forte quando vai se aproximando o dia de sua estréia. Notem: ela visita a outra bailarina acidentada, qual ela no íntimo se culpa por estar em seu lugar, qual crê que a Lily teria o mesmo desejo dela, tanto que quando ela delira, tem a real noção que teria transado com a amiga, e tudo não passou de seus fortes desejos reprimidos, daí, voltamos à ligação mãe-objeto de amor, tanto é que quando ela transa, quem ela vê? a mãe.

A patologia ficou tão intensa que ao final você percebe que o maior inimigo dela, é ela mesma. E o balé entre a neurose e a psicose faz seu último ato: a morte, porque a neurose não suporta a loucura e a loucura transcende a neurose. Passamos daí, a analisar as circunstâncias do desencadeamento da psicose. Para cada sujeito, a foraclusão do “Nome-do-Pai” ficará evidenciada em articulação com as vicissitudes de sua história e seu processo singular de travessia da adolescência que ela não teve no seu devido tempo. Quando uma pessoa que entra na adolescência é como se estivesse andando sobre um abismo, uma ponte invisível. Então se a pessoa cai no abismo ela precisa de alguém que lhe jogue uma corda e a tire do abismo, ela não consegue sair do abismo sozinha.

Vamos pensar um pouco sobre a questão da loucura - Freud inverte a perspectiva psiquiátrica acerca dela. Para a psiquiatria, a loucura é (dês)razão, contra-senso, erro, e a verdade se encontra do lado do médico. A psicanálise se afasta dessa perspectiva ao demonstrar que o delírio é portador da verdade do sujeito. Ou seja, entre o louco e o saber psiquiátrico, Freud dá razão àquele.

Nina no ato final crê que matou sua maior inimiga, e dança com todo prazer, transcendendo a culpa, se sentindo livre do que mais a atormentava e quando sai do delírio, percebe que ela não matou a Lily e sim, enfiou o vidro do espelho nela mesmo. Daí, o ato final, a loucura retorna ao seu lugar, ela dança com perfeição.

A metáfora do filme é muito simples: da realidade à loucura é um leve assoprar... Tudo vai do normal ao patológico em fração de segundos, é só abri a caixinha de pandora – o cisne branco representa todo pé na neurose estabelecida, no padrão de realidade criado por quem? Por nossa família e pela sociedade, representa o bem, o bom...a pureza e o cisne negro é o surto, a loucura em ato, a dor, a psicose, a patologia dançando, a luxúria a carne, a inveja, o ódio encenando sem pudor, sem regras, livre, só quem é louco, é livre...não segue padrões,, são um retrato fiel desses momentos particulares. E mostrar que: “o nosso pior e maior inimigo somos nós mesmos.”

Caso queiram entender a relação Mãe-Filha, recomendo lerem o livro de Zalcberg chamado “A relação Mãe e filha” - editora Elsevier.

Semana que vem para fecharmos esse filme, teremos um olhar Junguiano.

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