quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Hoje é dia de falarmos de Hipnose

O SHOW DE HIPNOTISMO


Há em muitos países, inclusive no Brasil, legislação condenando a
prática de hipnose para fins de entretenimento sem finalidades
científicas e o seu emprego por pessoas que não sejam médicos,
psicólogos ou dentistas.

É também consenso entre os hipnólogos terapeutas que estes
shows podem ser prejudiciais aos voluntários e à prática terapêutica da
hipnose, pela abordagem muitas vezes utilizada e que faz a pessoa
hipnotizada parecer tola ou sob o comando do operador, como se este
possuísse poderes sobrenaturais.

Não há comprovação, entretanto, de que tenham efetivamente
ocorridos prejuízos à saúde física e mental dos participantes destes
espetáculos. O show apresentado na televisão por Paul McKenna,
exibido em muitos países há muitos anos, infelizmente não no Brasil, é
um exemplo de que tal prática é segura. Recentemente, o hipnotista
Fábio Puentes vem se apresentando na televisão brasileira e
arrebanhando audiências fantásticas.

Embora a utilização da hipnose com fins puramente recreativos não
se coadune com meus princípios e interesses, reconheço tais pessoas
como artistas extraordinários, cujo mérito não é propriamente o de
provocar os fenômenos hipnóticos, e sim o de dar à apresentação
destes fenômenos a dinâmica de espetáculo e entretenimento. Se os
voluntários depositam sua confiança nestes artistas e se dispõem a
subir ao palco para experimentar hipnose, brincar e provocar risos na
platéia, é um ato consentido entre adultos e, pelo que se sabe até o
momento, sem conseqüências danosas à saúde.

Não cabe em minha imaginação que alguém se arvore dono do
fenômeno hipnótico a ponto de dizer onde e com que fins este deve ou
não acontecer. O mesmo motor de combustão que move ambulâncias
pode mover carros de corrida. A televisão que informa e educa (ou
deveria) também pode divertir.

Se os hipnotistas de palco causarem dano a seus voluntários, sejam
responsabilizados por isto. E se o seu crime for mau gosto na seleção
dos números do show, recaia sobre eles a desaprovação e o abandono
do público.

Passando dos méritos à descrição, muitas pessoas há que não
acreditam no que vêem acontecer no show de hipnose. De fato podem
haver representações, mistificações e uso de expedientes para enganar
o público, como a utilização de atores contratados. Mesmo muitos
hipnólogos sérios não conseguem entender e acreditar que alguém
possa ser levado a hipnose profunda em segundos, como a televisão o
faz parecer. O texto que se segue tenta lançar alguma luz sobre este
assunto tão controverso, e dar substratos ao leitor para aprender a
apreciar ou não a hipnose de palco. É claro que existem variações da
performance e da organização do espetáculo dos diversos artistas que
não serão estudados aqui. Não é minha pretensão esgotar o assunto.


O Hipnotista de Palco e o Rapport

A esta altura o leitor já reconhece o rapport como fenômeno
indispensável à hipnose.

O hipnotista de palco é reconhecido como alguém que tem
experiência em hipnose e por vezes poderes ocultos para influenciar a
mente dos semelhantes. As pessoas vêem os anúncios, compram
entradas e imaginam às vezes por dias o que vai acontecer no show.

Ao mesmo tempo que as expectativas vão crescendo, elas vão
pensando se serão ou não voluntárias, e saturando a mente com
pensamentos sobre hipnose em antecipação ao evento. No dia, o
ambiente é de diversão e relaxamento, sem pressão emocional ao
contrário do que ocorre na situação terapêutica. A postura de
autoridade e confiança do hipnotista, suas roupas quase sempre pretas,
a música e as luzes.
A indução de hipnose começa já muito antes do início do show.

A Seleção de Indivíduos Suscetíveis

Embora todos possam aprender hipnose, interessam para o show
aquelas pessoas que o farão muito rapidamente e em profundidade
adequada para responder às rotinas previstas na programação da
noite. Tal é feito através de testes de suscetibilidade.

Após uma breve preleção que geralmente inclui informações
científicas, curiosidades e gentil convite para que voluntários subam ao
palco, tais testes serão aplicados. Alguns artistas oferecem a
possibilidade de a platéia inteira submeter-se a eles.

O mais empregado de todos os tempos é o teste em que se faz com
que os dedos entrecruzados fiquem colados. O hipnotista dirá aos
voluntários que cruzem os dedos das mãos, apertem as palmas e os
dedos e mantenham o olhar fixo nas mãos. Após uma contagem os
dedos estarão colados e será impossível separá-los. As pessoas
apresentarão três respostas distintas a este exercício. Um grupo não
vai sentir alteração nenhuma e os dedos vão se separar facilmente. No
outro grupo, em que estão as pessoas dispostas a se concentrar e
colaborar, algumas vão sentir certa resistência e dificuldade para
separar os dedos e algumas vão descobrir seus dedos tão grudados
que será impossível para elas separar os dedos sozinhas. Estas últimas
são potencialmente “bons sujeitos” para o show. Esta reavaliação é
contínua e, na seqüência do espetáculo, se uma determinada pessoa
deixar de responder prontamente será substituída ou estrategicamente
deixada de lado.

Outras variações são sugestões de que as pessoas vão ficar
coladas ao chão, ou não vão abrir as pálpebras, ou um lápis vai grudar
em seus dedos. Importantes ainda são os testes relacionados ao
equilíbrio, onde se sugere que o indivíduo vai apresentar tendência de
queda para trás, ou para frente, e que será amparado na queda.

Em outro teste o voluntário vai ser instruído a fechar os olhos e
imaginar que está em um barco que balança. Por ação ideomotora
alguns poderão efetivamente balançar o corpo.

O hipnotista experiente vai saber em poucos instantes se a pessoa
apresenta bom potencial de resposta. A própria seleção já é
entretenimento para a platéia.

Fenômenos Iniciais

Alguns fenômenos podem ser provocados rapidamente no sujeito
mais sugestionável, causando um efeito impressionante. A própria
catalepsia pode ser utilizada de formas interessantes. Pode-se fazer
com que o braço do colaborador fique esticado e duro, e este não
consiga dobrá-lo. Ou que ele não consiga sair da cadeira, ou ainda que
uma perna fique dura e ele precise mancar.

As sugestões serão rápidas, repetitivas e autoritárias, e
freqüentemente o hipnotista vai demonstrar ao sujeito o comportamento
que quer que ele imite.
Pode-se fazer o voluntário falar ciciando, ou gaguejar, ou travar a
boca aberta ou fechada, e com habilidade fazê-lo até esquecer o
próprio nome.

Estes exercícios, ao mesmo tempo que são divertimento, estão
produzindo um aprofundamento do fenômeno hipnótico e capacitando o
sujeito a responder a fenômenos ainda mais complexos.

Hipnose é algo contagiante e que pode ser aprendido pela
observação. Nesta altura do campeonato muitos indivíduos da platéia
que eram inicialmente não responsivos já poderão ser flagrados em
franco transe hipnótico sob um olhar capacitado. Para aproveitar este
fenômeno, muitas vezes o hipnotista leva para os momentos iniciais do
espetáculo um paciente que já tenha tido a oportunidade de preparar
previamente.

Pode se referir a estes números como “hipnose acordado”, porque
ocorrem numa fase do show que precede uma indução mais completa,
o voluntário parece estar em estado normal de consciência (só parece)
e ainda não foi proferida a palavra “durma”.

Induções Formais

Muitos hipnotistas vão iniciar sua apresentação com uma indução
formal de hipnose, utilizando técnicas de relaxamento, fixação visual,
músicas, exercícios de respiração ou outros, e a partir das respostas
obtidas selecionar seus melhores voluntários. Já quando a
apresentação tem tempo reduzido, como em programas de auditório
em televisão, eles partem diretamente dos testes de suscetibilidade
para a demonstração de fenômenos.

Vários dos fenômenos mencionados no capítulo II vão ser utilizados
para criar números que entretenham e divirtam a platéia. Alterações de
personalidade, alterações de funções orgânicas, ilusões e alucinaçõessão substratos para criações impressionantes.
Nos tópicos a seguir, descrevo algumas das atuações mais famosas
ao redor do mundo.

Fenômenos em Desuso

A anestesia dos estados hipnóticos costuma ser demonstrada pela
introdução de agulhas na pele, e eventualmente transfixação de
tecidos, nos braços, face ou nas mãos. Por ser chocante, hoje em dia é
pouco utilizado.

A “Ponte Humana” era obtida ao se provocar rigidez em todo o
corpo de um voluntário e estendendo-o entre duas cadeiras, de forma
que se apoiasse apenas pelos calcanhares e a parte de trás da cabeça.
Sobre a pessoa assim suspensa subiriam uma ou mais pessoas, que
eventualmente pulariam. Outra variação consistia em colocar uma
grande pedra sobre a barriga do indivíduo e partí-la com golpes de
marreta. É uma realização impressionante. Muito embora a pessoa não
referisse desconforto, e mesmo ao acordar não lembrasse do ocorrido,
o organismo era exigido a um ponto absurdo e potencialmente
lesionado. A sua prática nos dias de hoje seria completamente
inadequada.

A ilusão de fazer a pessoa acreditar que está mordendo uma fruta
enquanto na verdade está comendo alho ou cebola costuma provocar
muito desagrado na platéia e distorcer os objetivos da apresentação.

Qualquer número em que se exija demais do corpo ou se leve
alguém a fazer algo de mau gosto deve ser execrado e abolido. É óbvio
que certas brincadeiras que são adequadas a uma platéia poderão não
ser a outras. Classe e bom senso, sempre, por favor.

Continua na semana que vem com mais tópicos utilizados pelos
hipnólogos de palco...um dos exemplo será "Tomando Água e Ficando Embriagado"

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