terça-feira, 2 de novembro de 2010

Complicações do Amor e Amor Patológico 2ª parte

Aliás, pode parecer redundante ou uma empáfia cultural, além de pouco útil, tentar definir esse sentimento universalmente experimentado pelos seres humanos ao longo de toda sua história. Também soa estranho acreditar que o amor, lindo, engrandecedor, poético, lírico e prazeroso, cantado em verso e prosa, não obstante, possa ser fonte de sofrimento. Mas, academicamente, há casos onde esse sentimento torna-se completamente obsessivo, tirano e opressivo, fanático e egocêntrico, produzindo sofrimento.



Quem sofre ou faz sofrer, contudo, não é o amor em si, mas a pessoa que enfoca no sentimento amoroso uma grave alteração psíquica, seja em sua personalidade, seja advinda de seus conflitos e complexos interiores. Não são raras as pessoas que, contrariando o bom senso e a crítica razoável, deixam tudo para viver um grande amor, aumentando perigosamente a possibilidade de serem infelizes, ainda que amando.

Aliás, parece ser tênue a separação entre a paixão e a perda da razão (desrazão), uma vez que a pessoa apaixonada costuma perder alguma porção de sua crítica e da capacidade em avaliar verdadeiramente a realidade. Mas, continuando com a necessidade acadêmica, quando no amor não há controle e se compromete a liberdade de conduta, de modo que esse sentimento passa a ser absoluto e em detrimento de outros interesses e atitudes antes valorizadas, podemos estar diante de um quadro chamado, atualmente, Amor Patológico (Norwood, 1985). Nessa patologia do amor a obsessão em pensar seguidamente na pessoa amada, faz sofrer muito, principalmente diante de tudo aquilo que dificulte, impeça ou atrapalhe a vivência de seu amor.

Embora o tema só esteja sendo mais bem estudado recentemente, existem hipóteses, teorias, observações e pesquisas que merecem ser consideradas. É bastante provável que esse quadro possa estar associado a outros transtornos psiquiátricos, tais como quadros depressivos e ansiosos (Wang, 1995). Pensa-se também que o Amor Patológico possa ocorrer isoladamente em personalidade mais propensas e vulneráveis (Gjerde, 2004), ou ainda em pessoas com extrema baixa auto-estima, (Bogerts, 2005). Em casos mais expressivos o Amor Patológico vem acompanhado de sentimentos invasivos de rejeição, de abandono e de raiva (Donnellan, 2005).


Em psiquiatria as alterações não são binárias, ou seja, não são certas ou erradas, feias ou bonitas, verdadeiras ou falsas. Aqui as situações comportam graduações entre extremos, de forma que podemos ter o amor com prazer, com menos prazer, com incômodo, com um pouco de sofrimento, com muito sofrimento e até o chamado Amor Patológico.

Sobre a possibilidade de o amor ser uma das mais claras manifestações de nosso egoísmo, ou egocentrismo, Nietsche dizia que todos acreditamos querer a pessoa amada e que ao acreditar que a queremos também acreditamos que esta é a solução para todas as nossas necessidades, ou para todas as necessidades de nossos sentimentos.

Essa hipótese pode ser mais bem exemplificada quando se diz que “te amo porque você é uma maravilha (e, evidentemente, quero regalar-me com essa maravilha)”. Obviamente, em seguida existe a colocação que “te necessito, eu te quero”. Ou, conforme podem dizer as pessoas mais apaixonadas; “não posso mais viver sem você”.

Em tudo isso, o ponto de referência continua sendo a pessoa que ama, seu bem estar emocional, sua satisfação em estar perto da pessoa amada, o conforto afetivo de se saber amada. É como se a pessoa amasse primeiro a si mesma e, para atender a esse auto-amor, necessitasse “ter” a pessoa amada para si.


...continua.

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