segunda-feira, 25 de julho de 2011

Psicologia e Filosofia em Nietzsche

O ser humano é possivelmente a única entidade capaz de refletir sobre si. Esta reflexão, no entanto, não se dá sempre da mesma forma, quer dizer, sob o mesmo prisma (como um caleidoscópio que nos fornece imagens e cores diferentes do mesmo cristal). O conjunto ordenado das diversas formas como podemos refletir sobre nós mesmos, forma a área de conhecimento humano que chamamos de Ciências Humanas. Assim, para refletir sobre o que somos e o que realizamos, usamos vários enfoques, várias formas de “olhar” o mesmo objeto de estudo, neste caso, o homem. A filosofia é uma disciplina das Ciências Humanas. Existem outras disciplinas que estudam o ser humano, como por exemplo, a sociologia, a história, a antropologia, a ciência política. Embora a psicologia esteja agregada à área das Ciências da Saúde, por tratar do homem ela não deixa também de ser uma “ciência humana”. Mas a filosofia e a psicologia são disciplinas construídas sobre princípios diferentes para “olharmos” a nós mesmos. A filosofia empresta conceitos à psicologia. A psicologia é uma ciência moderna enquanto a filosofia é uma ciência milenar. Por outro lado, a psicologia pode obrigar a filosofia a particularizar e relativizar aforismos universais, resgatando a subjetividade criativa de cada mente humana e o reconhecimento de que cada consciência é uma consciência particular da realidade que a cerca. No início a psicologia pretende verificar a correlação empírica dos vários tipos de pensamento ou sentimento com condições definidas do cérebro, partindo do princípio de que mentes são individuais e finitas. Sempre parece mais adequado a uma nova ciência seguir métodos de experimentação empírica, repetição e seleção de eventos pesquisados, neutralidade e objetividade, que são premissas das ciências naturais e biológicas. Depois, o progresso científico e industrial verificados nos séculos XIX e XX indicava que longe das especulações metafísicas da filosofia o pensamento e os sentimentos humanos seriam mais bem compreendidos se seguisse os mesmos métodos laboratoriais das demais ciências naturais – afinal o ser humano não deixa de ser um ser natural. Mas estaria a psicologia e os psicólogos aptos a entenderem o comportamento humano e a consciência em suas várias formas? Está afinal a psicologia capaz de compreender os outros seres humanos? É óbvio que o conhecimento sempre anda próximo do poder. A adequação da psicologia à área de conhecimento das ciências naturais – mais propriamente da saúde -, pode ser cativa da lógica técnico-científica de mercado. Neste sentido a eficiência da psicologia deve se prender a predizer e controlar as ações humanas, como um braço perverso da política e poder do Estado moderno (Michel Foucault)? ** O exemplo do Eterno Retorno de Nietzsche, resumidamente pode ser entendido assim: num espaço finito de forças infinitas, as coisas se repetem. Deixando a explicação científica dessa possibilidade de lado – pois verdadeiramente não é essa a questão mais importante para a teoria psicológica e filosofia psicanalítica -, o fato é que se por um momento imaginar essa possibilidade de que haverá um retorno de mim mesmo – pelo menos nada tão “insuspeito” quanto a ressurreição! -, a premissa mais verdadeira e ética é que eu deseje voltar, quer dizer, que eu tenha prazer em voltar. Então, não devo “viver cada momento como se fosse o último”, mas “viver cada momento de forma que o deseje viver novamente”! Se a melhor vida é a vida que desejo que seja “eterna”, preciso ser feliz a meu modo, primeiro, porque simplesmente não faz sentido viver a vida dos outros e pelos outros se não a vivo por mim mesmo e para gozar plenamente de sua alegria – porque desejaria ser escravo eternamente?; segundo, porque obviamente não vou querer retornar repetindo as mesmas ansiedades, angústias e dores de hoje, onde nada haveria a acrescentar, a progredir. A vida é minha, o retorno na eternidade é meu, e o desejo lógica e racionalmente para capturar plenamente as potencialidades de ser feliz como eu sou, da forma como sou! É neste sentido que Nietzsche vai opor a ação à reação – tipos de forças, a afirmação à negação – qualidades de forças, condenando o niilismo a serviço de todas as formas de condenação e danação da vida – a religião, o poder, o ascetismo. E o que força o ser humano a essa “fraqueza” de atitude, a essa “degenerescência” da vontade”? Basicamente o ressentimento e o remorso. Agora a filosofia metafísica se corporifica e se apresenta real: trata-se de categorias psicológicas incrustadas na consciência pela moral milenar (de Sócrates a Hegel). O ressentimento enfraquece o homem tanto quanto a preocupação é identificar o outro como culpado; o remorso deprime o homem quando a preocupação é me condenar pelo erro ou “pecado”. Ambos, ressentimento e remorso colocam nos ombros do homem um fardo que não suporta carregar, principalmente porque não precisa carregar. A vida agora lhe parece sem sentido e quanto mais sua ansiedade e angústia o condenam mais e mais a vida lhe é fugidia - nega-se o indivíduo como potencialidade de vir a ser no devir.

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