terça-feira, 26 de julho de 2011

Vamos falar sobre Personalidades

Wilhelm Reich
2ª parte

Bioenergia


Em seu trabalho sobre Couraça Muscular, Reich descobriu que a perda da rigidez crônica dos músculos resultava freqüentemente em sensações físicas particulares, em sentimentos de calor e frio, formigamento, coceira e uma espécie de despertar emocional. Ele concluiu que essas sensações eram devidas a movimentos de uma energia vegetativa ou biológica liberada.

Reich também descobriu que a mobilização e a descarga de bioenergia são estágios essenciais no processo de excitação sexual e orgasmo. Ele chamou a isto de Fórmula do Orgasmo, um processo de quatro partes o qual Reich julgava ser característico de todos os organismos vivos.

- Tensão Mecânica

- Carga Bioenergética

- Descarga Bioenergética

- Relaxamento Mecânico

Depois do contato físico, a energia se acumula em ambos os corpos e, por fim, é descarregada no orgasmo, o qual se constitui essencialmente num fenômeno de descarga da bioenergia. O ato sexual teria a seguinte seqüência:

1. Órgãos sexuais se entumecem de fluido - tensão mecânica

2. Resulta uma intensa excitação - carga bioenergética.

3. Excitação sexual descarregada em contrações musculares - descarga bioenergética.

4. Segue-se um relaxamento físico - relaxamento mecânico


Energia Orgônica


Aos poucos Reich estendeu seu interesse pelo funcionamento físico dos pacientes à pesquisa de laboratório em Fisiologia e Biologia e, finalmente dedicou-se à pesquisa em Física. Ele chegou a acreditar que a bioenergia no organismo individual não é nada mais do que um aspecto de uma energia universal, presente em todas as coisas. Ele derivou o termo energia "orgônica" a partir de organismo e orgasmo. Dizia que a Energia Orgônica cósmica funciona no organismo vivo como energia biológica específica. Assim sendo, governa o organismo total e se expressa nas emoções e nos movimentos puramente biofísicos dos órgãos.

A extensiva pesquisa de Reich sobre Energia Orgônica e tópicos relacionados à ela foi ignorada ou repudiada pela maioria dos cientistas. Seus achados contradizem muitos axiomas e teorias estabelecidos pela Física e Biologia, e é certo que o trabalho de Reich não deixa de ter falhas experimentais. Entretanto, sua pesquisa nunca foi rejeitada ou mesmo revista com cuidado e seriamente criticada por qualquer crítico científico respeitável.

Desde que Reich anunciou a descoberta da Energia Orgônica até hoje, nenhuma repetição bem intencionada de qualquer experimento crítico em Energia Orgônica foi divulgada, confirmando ou refutando seus resultados. Apesar do ridículo, da difamação e das tentativas de se repudiar Reich e sua orgonomia, não existe nenhuma contra-evidência de seus experimentos em qualquer publicação científica, muito menos uma refutação sistemática dos trabalhos científico que sustentam sua posição.

Segundo Reich, a Energia Orgônica teria as seguintes propriedades principais:

1. A Energia Orgônica é livre de massa; não tem inércia nem peso.

2. Está presente em qualquer parte, embora em concentrações diferentes, até mesmo num vácuo.

3. É o meio para a atividade eletromagnética e gravitacional, o substrato da maioria dos fenômenos naturais básicos.

4. A Energia Orgônica está em constante movimento e pode ser observada sob condições apropriadas.

5. Altas concentrações de Energia Orgônica atraem a Energia Orgônica de ambientes menos concentrados (o que contradiz a lei da entropia).

6. A Energia Orgônica forma unidades que se tornam o centro da atividade criativa. Estas incluem células, plantas e animais, e também nuvens, planetas, estrelas e galáxias.


Crescimento Psicológico


Reich definiu crescimento como o processo de dissolução da nossa couraça psicológica e física, tornando-nos, gradualmente, seres humanos mais livres, abertos e capazes de gozar um orgasmo pleno e satisfatório.

Reich achava que a couraça muscular está organizada em sete principais segmentos de armadura, que são compostos de músculos e órgãos com funções expressivas relacionadas. Estes segmentos formam uma série de sete anéis mais ou menos horizontais, em ângulos retos com a espinha e o torso. Os principais segmentos da couraça estão centrados nos olhos, boca, pescoço, tórax, diafragma, abdome e pelve.

De acordo com Reich, a Energia Orgônica flui naturalmente por todo o corpo, de cima a baixo, paralela à espinha. Os anéis da couraça formam-se em ângulo reto com este fluxo e operam para rompê-lo. Reich afirma que não é por acaso que na cultura ocidental aprendemos a dizer sim movendo a cabeça para cima e para baixo, na direção do fluxo de energia do corpo, enquanto que aprendemos a dizer não movendo a cabeça de um lado para o outro, na direção transversa da couraça.

A couraça serve para restringir tanto o livre fluxo de energia como a livre expressão de emoções do indivíduo. O que começa inicialmente como defesa contra sentimentos de tensão e ansiedade excessivos, torna-se uma camisa-de-força física e emocional. No organismo humano encouraçado, a Energia Orgônica é presa nos espasmos musculares crônicos.

Após a perda de um anel da couraça, o orgon do corpo não começa de imediato a correr livremente. Logo que os primeiros blocos da couraça são dissolvidos, nós descobrimos que, com os fluxos e as sensações orgônicas, a expressão do "dar" se desenvolve cada vez mais. Entretanto, couraças ainda existentes evitam seu desenvolvimento total.

A terapia reichiana consiste em dissolver cada segmento da couraça, começando pelos olhos e terminando na pelves. Cada segmento é uma unidade mais ou menos independente com a qual se precisa lidar separadamente.

Três instrumentos principais são usados para dissolver a couraça:

1. Armazenamento de energia no corpo por meio de respiração profunda;

2. Ataque direto dos músculos cronicamente tensos (por meio de pressão, beliscões e assim por diante) a fim de soltá-los;

3. Manutenção da cooperação do paciente lidando abertamente com quaisquer resistências ou restrições que emergem.


Os olhos


A couraça dos olhos é expressa por uma imobilidade da testa e uma expressão "vazia" dos olhos, que nos vêem por detrás de uma rígida máscara. A couraça é dissolvida fazendo-se com que os pacientes abram bem seus olhos, como se estivessem com medo, a fim de mobilizar as pálpebras e a testa, forçando uma expressão emocional e encorajando o movimento livre dos olhos, fazer movimentos circulares com os olhos e olhar de lado a lado.


A Boca

O segmento oral inclui os músculos do queixo, garganta e a parte de trás da cabeça. O maxilar pode ser excessivamente preso ou frouxo de forma antinatural. As expressões emocionais relativas ao ato de chorar, morder com raiva, gritar, sugar e fazer caretas são todas inibidas por este segmento. A couraça pode ser solta encorajando-se o paciente a imitar o choro, a produzir sons que mobilizem os lábios, a morder e a vomitar e pelo trabalho direto com os músculos envolvidos.


O Pescoço

Este segmento inclui os músculos profundos do pescoço e também a língua. A couraça funciona principalmente para segurar a raiva ou o choro. Pressão direta sobre os músculos profundos do pescoço não é possível, portanto, gritar, berrar e vomitar são meios importantes para soltar este segmento.


O Tórax

Este segmento inclui os músculos longos do tórax, os músculos dos ombros e da omoplata, toda a caixa torácica, as mãos e os braços. Ele serve para inibir o riso, a raiva, a tristeza e o desejo. A inibição da respiração, que é um meio importante de suprimir toda emoção, ocorre em grande parte no tórax. A couraça pode ser solta através do trabalho com respiração, especialmente o desenvolvimento da expiração completa. Os braços e as mãos são dos para bater, rasgar, sufocar, triturar e entrar em contato com o desejo.


O Diafragma

Este segmento inclui o diafragma, estômago, plexo solar, vários órgãos internos e músculos ao longo das vértebras torácicas baixas. A couraça é expressa por uma curvatura da espinha para frente, de modo que há um espaço considerável entre a parte de baixo das costas do paciente e o colchão. É muito mais difícil expirar do que inspirar. A couraça inibe principalmente a raiva extremada. Os quatro primeiros segmentos devem estar mais ou menos livres antes que o diafragma possa ser solto através do trabalho repetido com respiração e reflexo do vômito (pessoas com bloqueio intenso neste segmento acham virtualmente impossível vomitar).


O Abdomen


O segmento abdominal inclui os músculos abdominais longos e os músculos das costas. Tensão nos músculos lombares está ligada ao medo de ataque. A couraça nos flancos de uma pessoa produz instabilidade e relaciona-se com a inibição do rancor. A dissolução da couraça, neste segmento, é relativamente simples, desde que os segmentos mais altos estejam abertos.


A Pelve

Este segmento contém todos os músculos da pelve e membros inferiores. Quanto mais intensa a couraça, mais a pelve é puxada para trás e saliente nesta parte. Os músculos glúteos são tesos e doloridos, a pelve é rígida, "morta" e assexual. A couraça pélvica serve para inibir a ansiedade e a raiva, bem como o prazer.


A ansiedade e a raiva resultam das inibições das sensações de prazer sexual, e é impossível experienciar livremente o prazer nesta área até que a raiva tenha sido liberada dos músculos pélvicos. A couraça pode ser solta primeiramente mobilizando a pelve e fazendo com que o paciente chute os pés repetidas vezes e também bata no colchão com sua pelve.

Reich descobriu que à medida que seus pacientes começavam a desenvolver capacidade para plena entrega genital, toda sua existência e estilo de vida mudavam basicamente. Achava Reich que a unificação do reflexo do orgasmo também restaurava as sensações de profundidade e seriedade. Os pacientes lembram-se do tempo da sua primeira infância, quando a unidade de suas sensações corporais não estava perturbada.

Tomados de emoção, falam do tempo em que, crianças, sentiam-se identificados com a natureza e com tudo que os rodeava, do tempo em que se sentiam "vivos" e como finalmente tudo isto fora despedaçado e esmagado pela educação.

Estes indivíduos começavam a sentir que a rígida moralidade da sociedade, que anteriormente reconheciam como certa, era uma coisa estranha e antinatural. Atitudes em relação ao trabalho também mudavam de forma nítida.

Aqueles que faziam seu trabalho como uma necessidade mecânica, via de regra largavam seus empregos para procurar um trabalho novo e vital que preenchesse suas necessidades e desejos interiores. Aqueles que já estavam interessados em sua profissão, muitas vezes desabrochavam com energia, interesses e habilidades novas.

Obstáculos ao Crescimento Couraça


A Couraça é o maior obstáculo ao crescimento segundo Reich. O indivíduo encouraçado seria incapaz de dissolver sua couraça e, portanto, seria incapaz de expressar as emoções biológicas primitivas. Ele conhece a sensação de agrado mas não aquela de prazer orgônico. Ele não pode emitir um suspiro de prazer e, se tentar, irá produzir um gemido, um berro reprimido ou um impulso para vomitar. Ele é incapaz de deixar sair um grito de raiva ou imitar um punho atingindo o colchão com raiva.

Reich sentiu que o processo de encouraçamento havia criado duas tradições intelectuais distorcidas, as quais formaram a base da civilização: a religião mística e a ciência mecanicista. Os mecanicistas são tão bem encouraçados que não têm idéia real de seus próprios processos de vida ou de sua natureza interna. Eles têm um medo básico de emoções profundas, vivacidade e espontaneidade. Eles tendem a desenvolver um conceito rígido e mecânico da natureza e estão primariamente interessados nos objetos externos e nas ciências naturais.

Comentando sua idéia, achava que pelo fato de uma máquina ter que ser perfeita, por conseguinte, o pensamento e as ações do homem da ciência também teriam que ser perfeitos. Perfeccionismo é uma característica essencial do pensamento mecanicista. Ele não tolera erros e incertezas, e as situações de mudança são inoportunas. Mas este princípio, quando aplicado a processos da natureza, inevitavelmente conduz à confusão, pois a natureza não opera mecanicamente, mas funcionalmente.

Os místicos não desenvolveram sua couraça tão completamente. Eles permanecem, em parte, em contato com sua própria energia vital, e são capazes de grande compreensão interna (insight) por causa deste contato parcial com sua intimidade. Entretanto, Reich via essa compreensão interna (insight) como distorcida, uma vez que os místicos tendem a se tornar ascéticos e anti-sexuais, a rejeitar sua própria natureza física e a perder o contato com seus corpos. Eles repudiam a origem da força vital em seus próprios corpos e localizam-na numa alma hipotética, que eles sentem ter apenas uma tênue conexão com o corpo.

Sobre os místicos, achava Reich que no rompimento da unidade de sentimento do corpo pela supressão sexual e no contínuo anseio de restabelecer contato consigo mesmo e com o mundo, encontra-se a raiz de todas as religiões negadoras do sexo. Deus seria a idéia mistificada da harmonia vegetativa entre o eu e a natureza.

Na última parte falaremos sobre Repressão Sexual...

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